segunda-feira, 19 de setembro de 2011

E NOSSAS VIDAS VIRARAM TAPUME



Sr. Christian, tenho algumas obs. a fazer sobre “a falta de símbolos e de memória” que o sr. atribui a TS e que li num post do Facebook (grupo do sr. Duillio Farias).

Adequado dizer que não é de hoje que ouço afirmações desse tipo. A primeira e mais traumática foi nas avaliações finais das plenárias do Plano Diretor “Participativo” de TS em 2007. Sem a menor cerimônia, decretaram que a cidade não tinha memória. Se quiser saber mais, navegue aqui.



Sr. Christian, Taboão tem sim símbolos, brasão, bandeira, hino, árvore-símbolo e Cristo Redentor e na sua origem todas estas coisas nos conduzem a um sr. já falecido, Waldemar Gonçalves, “raspado” da dita história oficial da cidade por um revisionismo farisáico. OK?

As fotos do Centro de Memória pertencem aos munícipes e famílias que as forneceram ao projeto do “kit didático da PMTS” produzido pela Equipe de História da Secretaria Municipal da Educação, em 2002 e 03, ainda no governo FF. A responsável pelo projeto é a prof. Maria Cândida Delgado Reis com mais seis pesquisadoras. A elas caberia catalogar detalhadamente cada foto, usar scaners delas para a publicação objeto do projeto (e só para ela), mantê-los sob guarda, controle e segurança da administração e devolver os originais aos legítimos donos.

Mesmo que familiares dos pioneiros já falecidos tivessem (e há casos assim) “doado” as fotos e os scaners posteriormente feitos pela Equipe de História, e mesmo se tivessem autorizado por escrito que fossem usadas livremente, uma vez que confiavam nas pessoas que as entrevistaram, ainda mais por isso, estas não tinham o direito de tratá-las como clip-arts retrôs que é mais ou menos o que elas se tornaram hoje. A incorporação dessas imagens ao “arquivo do Portal” é portanto arbitrária. OK?

O fato delas estarem “de posse agora do O taboanense” não dá ao Portal o direito de dispor delas como bem entender. Um dos motivos é que elas não estão identificadas (nem legendas têm) como seria obrigação que o Centro de Memória fizesse, caso os critérios para isso fossem estabelecidos numa regulamentação. O que não existe porque a Lei que criou o órgão, simplesmente ignorou esta necessidade. O ato de catalogar uma imagem histórica é trabalhoso e detalhado (chama-se tombamento). OK?

Os CDs que contêm todas as fotos do Centro de Memória “vazaram” na etapa da COEX (Coordenação Executiva) da gestão do atual prefeito. Esse órgão centralizador e poderoso requisitava e tinha como exigir qualquer foto ou documento histórico dos departamentos da PMTS. Sei isso de boa fonte, sei que é um dado concreto (e histórico) da realidade e que há pouca chance de eu estar errado. OK?

Mas muito antes disso, houve uma época em que o Portal publicava fotos antigas exigindo copyright (mencionar o Portal como fonte) pela publicação. As legendas, toscas, mencionavam coisas como “Dona Didi” (existem pelo menos três personalidades com esse apelido) e que as fotos seriam “colaboração de fulana de tal”.

Depois veio a era em que uma “pequena história de TS” assinada pelo proprietário do Portal figurava até no site da PMTS. Uma das imprecisões que lá permaneceu por anos era o nome do nosso grande pioneiro José André de Moraes escrito errado! E dali o erro se espalhou, indo parar até na Wikipédia,vejam só.

Sobre isso fiz chegar ofício detalhado ao sr. Maruzan, então Diretor de Comunicações da PMTS, entregue por pessoa em que confio plenamente. Chegou com certeza às suas mãos e nunca foi respondido. Quando vi, numa matéria do Portal, que este sr. elogiava e agradecia os pioneiros e suas famílias pela “doação” de fotos históricas, percebi o equívoco das autoridades: considerar as fotos antigas como objetos de transmissão intervivos, doação ou simples comércio.

Os direitos de imagem não são passíveis de alienação, doação ou transferência. Os pioneiros e suas famílias têm (deveriam ter) a decisão final de quando e como elas podem ser utilizadas. No caso das fotos históricas, o direito de imagem (por ex.,o seu pai ao lado da impressora em que editou grande número de jornais da região) não existe independente do seu suporte (a foto amarelada pelo tempo batida por você numa antiga câmara Kodak, por ex.) e a “doação completa e incondicional”, mesmo que exercida pelo “doador”, não tem valor legal. OK?

Mesmo que estas já fossem de “domínio público” (não são, para ser precisaria transcorrer 70 anos e não haver descendentes ou herdeiros do autor), não seria o poder público o único com autoridade (e clarividência) para administrá-las! Se assim fosse, estudiosos e pesquisadores independentes como Waldemar Gonçalves, Moacyr de Faria Jordão (Embu), Benevídes Beraldo (Itapecerica) e, em muito menor escala, a minha pessoa, nunca poderiam se ocupar das fotos e dos fatos históricos, escrever livros, dar palestras em escolas, curar exposições ou fundar museus. OK?

As fotos antigas do acervo da PMTS retratando pessoas e acontecimentos da gestão municipal durante décadas (incluídas fotos de cadastro apensas aos processos de construção) não pertencem ao Portal. Aliás, nem podiam ser disponibilizadas pela administração municipal da maneira aleatória como se fez. OK?

As fotos fornecidas pelas escolas municipais e estaduais (formaturas, eventos esportivos etc.) e por pessoas físicas (caso das fotos da BR publicadas no Portal) à Biblioteca Castro Alves na época da coleta de dados pela equipe de história também não pertencem ao Portal que não as poderia usar, como tem feito, como ilustração de matérias citando como fonte apenas o “arquivo” do jornal, coisa sem cabimento porque a mera publicação de uma foto não caracteriza propriedade da mesma, idéia que parece ser convicção do jornal desde longa data. Sobre isso ver o expediente do Portal . OK?

O uso de fotos dos arquivos da Câmara (fotos de vereadores de antigas legislaturas, eventos, cerimônias, sessões solenes etc.) também não é correta porque estas peças  não pertencem ao Portal. Esse importante material deveria, em primeiro lugar, ser disponibilizado para todos, provavelmente no Centro de Memória, desde que convenientemente identificado, datado, catalogado, contextualizado e autorizado pelo detentor dos direitos (fotógrafo, famílias ou ambos porque muitas dessas fotos foram “batidas” pelos próprios pioneiros). O Portal deveria ser apenas mais um pesquisador a consultar e reproduzir as fotos históricas e não ter a liberdade de acesso e reprodução ilimitada de que dispõe hoje.

Quanto à utilização dos CDs com as fotos históricas e sem legendas, convenientemente “vazados” do Centro de Memória, vou citar um exemplo notável das deformações que o uso free das fotos históricas, aos poucos, vai estabelecendo. Não sei como, mas essa coleção de imagens anônimas chegou à agência de publicidade do nosso Shopping que as colocou em dois tapumes daqueles que cercam os boxes vazios anunciando a futura instalação de uma nova loja.


Num deles, é mostrada uma banda frente à Câmara Municipal em 1960. O texto “Diz qual foi a última vez que você viu uma banda na cidade? Antes era sempre assim.” parte do princípio de que o leitor não sabia que antes era assim (tudo sossegado, fácil, tranquilo) e que ali naquele local do shopping, em breve, surgirá uma outra grande novidade que tornará a vida desse consumidor tão bacana e confortável como naqueles tempos.



No outro, uma imagem da Rod. Régis Bittencourt em 1970. O texto “Viajar naquela época era um sossego. Imagine, essa era a Rodovia Régis Bittencourt em 1970.” A foto é dada como do acervo particular da Família Pavone, embora na publicação da PMTS “Cenas da cidade Taboão da Serra 1918 a 1980” (editada em 2004) figure como do acervo de Valdirez de Jesus Pires.

Banda Municipal regida por Álvaro Manoel de Oliveira com o destaque
do Padre Carlos Spagnol com sua poderosa tuba
Citar a fonte “acervo particular da Família Tal” não esclarece como a foto de um acervo pessoal foi parar na agência (notar que propaganda é um empreendimento comercial, enquanto as fotos históricas não são clip-arts (coleção de desenhos ou fotos de uso indiscriminado, com ou sem custo).

Mas há outros problemas na mensagem dos tapumes. Em primeiro lugar a banda que lá aparece não é a do maestro Álvaro, a primeira e única banda na cidade na sua fundação. É a banda da Força Pública de São Paulo! E aqueles tempos não eram um “mar de rosas” como o cartaz pretende mostrar. Nossa bandinha sempre enfrentou problemas e acabou morrendo “à míngua” porque a PMTS da época não mais lhes deu transporte e lanches para que se apresentassem. O argumento era de que a cidade não era mais interior e podia descartar a bandinha típica.

No outro cartaz se alega que transitar pela BR 116 em 1970 era coisa tranquila porque não tinha trânsito. Nada mais descabido. A foto mostra pouco do leito carroçável da via, cujo acostamento ainda era de terra. Já naquela época a Régis era conhecida como a “rodovia da morte”, a vida não era nada fácil como insinua a propaganda. E nem mesmo como mostram as fotos “do arquivo do O Taboanense” agora publicadas, visões bucólicas livres das agruras da realidade (nem trânsito possuem).

E, sobretudo, os legítimos donos das fotos deveriam ser consultados sobre essa utilização de fotos dos respectivos acervos para referendar conceitos duvidosos. Talvez elas autorizassem o uso, mesmo considerando essas “evasões de contexto”. Talvez tenha ocorrido exatamente isso, a autorização. Mas, pessoal, a “troca de gato por lebre” que, na minha opinião, a peça publicitária oferece não recomenda muito o “resgate” histórico a que a PMTS e o Portal vêm se dedicando. OK?

Quem conseguiu chegar até aqui neste texto, merece saber o que acho sobre essa pesquisa que o sr. Christian fez “buscando fontes primárias (nao existe uma biografia oficial completa ainda da antiga prefeita Laurita por exemplo)”.

Os dados biográficos de dona Laurita são fartos e públicos. Esse “intento” que o sr. tem de uma “biografia oficial completa”, ameaça que já fez anteriormente num comentário do blog do sr. David da Silva, “Bar e Lanches Taboão”, demonstra, no meu entender, o interesse de ambos em esculhambar a querida personagem, como se ela tivesse escondido ou se envergonhado de ter sido vedete antes de se casar com o sr. Francisco Mari e de ter tido relações de amizade com o governador Adhemar de Barros e sua esposa Eloá Mendes de Barros, o que beneficiou muito TS.

Essas informações, boatos maldosos ou não (devemos lembrar que dona Laurita nunca fez segredo de que havia sido vedete) nunca foram escondidas.

Então, sr. Christian, não posso impedí-lo de pesquisar o que quiser em fontes “primárias” ou “secundárias” (não sei em qual categoria o sr. coloca o site que edito, o Taboão on Line), mas lhe peço prudência ao tornar público os resultados de tal procura porque (1) eu não dei nenhuma autorização para usarem o conteúdo do Taboão On Line para difamar ninguém, (2) a citação descuidada e fora de contexto de entrevistas lá publicadas implica responsabilidade de quem a praticar, seja em qual veículo for, e (3) não preciso lembrá-lo de que discutir a vida de quem já não está mais neste mundo para se defender é ofensivo, antiético e desumano. OK?

Caso o sr. e os leitores queiram ler a página da entrevista do sr. Waldemar e de dona Antonia, que deu origem involuntária à polêmica, cliquem aqui.




Um comentário:

  1. Sr. Sudaia

    Bacana vossa postagem porém algumas considerações são importantes

    Em nenhum momento ao escrever sobre a antiga Prefeita busquei menosprezar ou desqualificar sua trajetória. Por ser um artigo busquei ressaltar as suas realizações enquanto Prefeita pela nossa cidade. A foto que obtive dela entregando o diploma para os formandos peguei diretamente com uma antiga formanda hoje Diretora de Escola que tinha a imagem em seu álbum de formatura.

    Moro inclusive no condomínio que leva o seu nome e que foi parte de sua chácara. As informações como você mesmo diz são fartas porém não estão reunidas e checadas em uma única mídia.


    As fontes primárias são aquelas onde entrevistei diretamente pessoas que conviveram com nossa antiga Prefeita.

    Foram com base nestas informações que há quase dois anos fiz a o pequeno artigo.

    Sobre o Waldemar existe também uma disputa política e que ao que parece o envolve indiretamente pois na época do falecimento do jornalista busquei junto a Cãmara Municipal (diretamente com o Vereador Olívio) para que buscasse denominar o Centro de Memória com o nome de Waldemar Gonçalves.

    Sobre as fotos atualmente publicadas pelo Portal O Taboanense, as imagens da BR 116 são parte um álbum que tenho que traz um grande conjunto de imagens que retratam todo o trajeto da rodovia em solo taboanense.

    Este álbum está em minha posse e os direitos para a exibição das imagens como material jornalístico foram passados para O Taboanense.


    Uma correção. O nome da esposa de Adhemar é Leonor. Eloá era a esposa de Jânio Quadros

    Um forte abraço

    ResponderExcluir